quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Odres novos para vinho novo - Uma pequena reflexão sobre as atualizações que devemos fazer na evangelização



Por Glauber Silveira

Não se pode negar que o mundo anda perdido. Até mesmo dentro das fileiras da Igreja Católica encontramos muitas pessoas que estão perdidas. Algumas estão nesta situação devido a sua tibieza em se aprofundar nas riquezas do catolicismo. Outras já estão por serem orgulhosas ao se depararem com esta riqueza.

Dentro deste mundo caótico, me lembro do ensinamento de Jesus em Mateus 9,17:
"Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se conservam.”

O capitulo 9 de Mateus é fascinante. É o capítulo de reformação de conceitos religiosos. Afinal Jesus veio para aperfeiçoar a antiga Lei e dar-lhe não só o completo cumprimento como a correta interpretação. No começo do capitulo, o Mestre já aponta a sua divindade, usando seu poder de perdoar os pecados e curar o paralítico. Esta sua ação gerou murmuração na elite religiosa (escribas).
 
No versículo 9 adiante temos a escolha do pecador Mateus para ser seu discípulo. Outra vez, uma aplicação fantástica da Lei de Deus. No episódio do chamado de Mateus temos incutido a alimentação que Jesus fez na casa desse e de como muitos homens (e mulheres) pecadores rodeavam Jesus. Dai surgir à queixa dos fariseus (também representantes da elite religiosa da época): 
“Por que come vosso mestre com os publicanos e com os pecadores?"
Jesus foi certeiro: 
"Não são os que estão bem que precisam de médico, mas sim os doentes. Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores."
A reformulação de como se aplicar e viver a Lei que Jesus veio ensinar aos seus seguidores não gerou inquietação apenas na elite religiosa, entre os escribas e fariseus.  Os discípulos de João Batista se sentiram incomodados pelo fato de Jesus estar a comer com seus discípulos em vez de fazer jejum. Para os seguidores do profeta do deserto, como os discípulos de Jesus estariam isentos de jejuar? Mais uma vez, esta indagação não fica sem resposta: 
“Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto o esposo está com eles? Dias virão em que lhes será tirado o esposo. Então eles jejuarão. Ninguém põe um remendo de pano novo numa veste velha, porque arrancaria uma parte da veste e o rasgão ficaria pior. Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se conservam.”
O capitulo 9 de Mateus é profundo. Não desejo seguir o texto para os atuais “escribas” e para os atuais “fariseus”. É minha intenção me dirigir para os atuais “discípulos de João Batista.”

Admito que muita coisa se perdeu dentro da Igreja: regras, leis, ritos, catequese, apologética. Todas estas coisas são salutares e tem imenso valor. Porém não possuem valores absolutos. Eu não posso querer viver bem a minha vida de católico me comportando como um adorador do antigo. Existe algo na Liturgia, na pregação, na apologética, nos ritos, na doutrina que devem ser conservados. A essência deve ser sempre mantida e inalterada. Porém evitar inovações afirmando que toda inovação é ruim, diabólica ou pagã não é sadio a se fazer. 

Não estou defendendo aqui a mudança pela mudança. Estou falando que nos dias de hoje também é preciso que se coloque vinho novo em odres novos. Vejo pessoas no Facebook, principalmente aqueles que vivem para defender um retorno da Liturgia pré-Vaticano II que perdem a credibilidade por simplesmente fazer do antigo o modo único de agradar a Santíssima Trindade. 

Existe nobreza em respeitar, honrar e querer viver as tradições riquíssimas da Santa Igreja Católica em sua Liturgia, em suas Leis em sua forma de expor a doutrina. No entanto, tome-se cuidado com a doença de endeusar o passado. 

Pessoalmente sou contra a sede de inovações, que causam danos irreparáveis. A maioria das inovações, feitas usurpando a autoridade do Magistério atual, descambam em sua maioria para o ridículo, o pobre e o sem sentido espiritual. Porém também vejo como patológico o apego ao passado. Não estamos mais no século XV ou no século XIII. Se por um lado, ninguém pode abandonar o passado da Igreja, por outro não podemos querer recriar o passado em um mundo que é gigantescamente diferente do passado. Outras maneiras de se viver, ensinar e compreender o eterno tesouro católico é necessário nos dias de hoje.

O mundo se tornou velho: um odre velho. E ele não suporta o vinho novo do Evangelho. Não somos chamados a desperdiçar o vinho novo em odres velhos, quebrados, sujos. Hoje, exige-se novos odres para fazer chegar aos homens e mulheres a eterna, profunda e insubstituível verdade católica. Não traiamos a Tradição. Não adulteremos o Evangelho. Mas também não sejamos burros empacados no passado. 

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